sábado, junho 19, 2010

quinta-feira, maio 20, 2010

"Na Crítica da Razão Pura, Immanuel Kant observou que o homem não tem acesso ao real em si, à realidade ontológica das coisas, mas apenas a representações do real. Nós não compreendemos a natureza dos objectos em si mesmos, apenas o modo como os percebemos, modo esse que nos é peculiar. Por exemplo, um homem percepciona o mundo de uma maneira diferente dos morcegos. Os homens captam imagens, os morcegos registam ecos de sonar. Os  homens vêem cores, os cães olham a preto e branco. Os homens captam imagens, as cobras sentem temperaturas. Nenhuma forma é mais verdadeira do que a outra. São todas diferentes. Nenhuma capta o real em si e todas apreendem diferentes representações do real. Se quisermos retomar a célebre alegoria de Platão, o que Immanuel Kant vem dizer é que estamos todos numa caverna acorrentados pelos limites da nossa percepção. Do real apenas vemos as sombras, nunca o próprio real."

in Codex 632

terça-feira, maio 11, 2010

Equador


Li a pouco tempo e pela segunda vez este livro de Miguel Sousa Tavares. 
Cativante da primeira à ultima página, este livro consegue fazer-me desligar da realidade, e quando o meu objectivo era ler apenas umas páginas antes de adormecer, dei por mim a pensar, "só mais um bocadinho", uma duas e três vezes, de tal modo que muitas foram as vezes em que fiquei a ler até à exaustão, até o sol começar a espreitar pela persiana entreaberta, despertando-me para a realidade, alturas em que eu me obrigava a adormecer, ansiando pelas próximas páginas que iria ler no dia seguinte. 
Quem já leu o livro decerto que sabe do que estou a falar, quem nunca leu, faça um favor a si próprio, leia-o.
Não caiam no erro de pensar que o livro é como a série televisiva exibida pela TVI. O livro é muito mais do que isso. 
Trata-se da história de um Governador Ultramarino Português e a sua passagem pelas ilhas de S. Tomé e Príncipe, relatando a sua vida amorosa, as suas rivalidades, e o penoso encargo do qual está encarregue no fim do mundo que seriam estas duas ilhas no virar do século XIX.


Sempre tive o vício da leitura, incutido desde cedo pela minha mãe, a leitura é o melhor vício que carrego comigo, no entanto, sou bastante selectivo, e não leio tudo o que me apresentam como bons livros. Assim sendo o facto de ter lido pela segunda vez esta obra mostra o quanto me cativou. Até porque os bons livros devem ser sempre lidos mais do que uma vez, de preferência com bastante espaço de intervalo entre leituras, pois, como descobri, o mesmo livro marca-nos de maneiras diferentes em alturas diferentes. 

Não será o meu livro favorito, mas anda de certeza no "top 10".

E vocês que livro me aconselhariam a ler?



quinta-feira, abril 01, 2010

AutoCAD vs ArchiCAD

Sei que é um tema recorrente, e basta digitar no google algo do género para aparecerem logo alguns blogues com posts sobres este assunto, no entanto também tenho direito à minha opinião.

"Sempre" trabalhei com autoCAD, quando digo sempre refiro-me desde que comecei a usar programas de desenho à cerca de 9 anos(desde o 10º ano no curso de desenhador projectista). Acho um programa fantástico, extremamente livre, simples de usar, e que não restringe em nada o utilizador. Sempre que me falavam noutro programa defendia o autocad com unhas e dentes, e nunca me aventurei muito tempo num outro programa. Até agora. 

Quando, no final do curso comecei a procurar na net alguns possíveis atelier´s para mandar currículos e portefólios, constatei que é recorrente pedirem aos candidatos domínio em programas não vectoriais mas de modelação 3d. E que o mais frequente era o ArchiCAD, no entanto há quem exija revit, 3d studio, e muitos exigem dois deles juntos, enfim, tudo e mais alguma coisa. 

Decidi então fazer um curso de ArchiCAD, pois para além de me dar um diploma e uma mais valia no currículo, o facto de a empresa formadora ter um protocolo com a ordem dos arquitectos possibilita o uso do diploma como formação para a ordem. Já tinha umas luzes do programa na faculdade, mas nada de especial, foi com alguma surpresa que me vi surpreendido pelo programa. É sem dúvida alguma fácil de usar, e esta última versão ArchiCAD 13 é fantastica. 

Vantagens do Archicad:
  • o facto de trabalharmos num modelo 3d, diminui o risco de erros de projecto;
  • todos os materiais e composições de paredes são facilmente editáveis;
  • reduz o tempo de projecto, pois ao contrário do autoCAD, este programa faz cortes e alçados de maneira automática, e permite ao utilizador trabalhar nos próprios cortes actualizando automaticamente as plantas e alçados;
  • permite completar os desenhos com informações externas em 2d, por exemplos os pormenores construtivos podem ser desenhados em autocad e depois inseridos no archicad, e sempre que o ficheiro dwg for alterado ou corrigido, o archicad actualiza o desenho. 
  • permite o trabalho em equipa, no mesmo ficheiro, o que traz vantagens quando estamos a trabalhar em equipa.
Sinceramente fui convertido ao ArchiCAD, no entanto como todos os outros programas necessita de trabalho e prática, e a medida que vamos conhecendo melhor o programa, menos segredos este tem, e mais facilmente se torna a sua utilização.

Qual a vossa opinião em relação a este tema? Com que programa trabalham e porquê? Acham que tenho alguma razão no que digo, ou estou temporariamente demente? Deixo aqui algumas imagens produzidas em Archicad ao fim de mais ou menos 1 mês de experiência.


quarta-feira, março 17, 2010

Cidade dos Homens

A série brasileira conta a história de dois adolescentes, Aceróla e Laranjinha. Mais do que a história dos dois principais personagens, esta série mostra sem pudor nem restrições como é viver na favela. 
É na minha opinião a melhor série televisiva jamais feita, por demonstrar a realidade das comunidades desfavorecidas do Brasil (favelas!) que muitos desconhecem e muitos querem desconhecer. 
Ao longo das quatro temporadas podemos acompanhar o crescimento de Aceróla e Laranjinha, as suas peripécias próprias da adolescência, como o primeiro beijo, as tentativas de enriquecer e ser alguém, o sofrimento dos personagens por não terem pai, entre outros dilemas.

Em 2007 a série foi adaptada para cinema com o mesmo nome, continuando a mostrar as histórias dos dois personagens da série, mas desta vez com 18 anos a história roda à volta a paternidade.

Aconselho a quem tiver curiosidade a ver a série primeiro. 


terça-feira, março 16, 2010

CSD Architecten: Stef & Britt House, Antwerp, Belgium, 2009

"A casa é construída em um lote muito pequeno de terra no centro de Antuérpia. Medindo apenas 4 metros de largura por 12 metros de profundidade, os desafios foram para maximizar as qualidades espaciais, para obter uma abundância de luz, e ter um máximo de contactos entre os espaços.

A fim de alcançar este objectivo, organizámos os espaços divididos em níveis em torno de um núcleo central de distribuição, constituído por uma escada, um elevador, uma zona técnica e um espaço vazio para permitir a passagem de luz através de todo o comprimento da casa.

Ao contrário da fragmentação e da complexidade da estrutura e da assimetria  da fachada, os interiores são projectados para criar um carácter único e monolítico.
As cores interiores são escolhidas para corresponder ao conjunto e criar, mais uma vez, uniformidade e não
ambientes contrastantes.
Tentámos encontrar um equilíbrio em uma arquitectura moderna, que tem uma alma, calor e uma especificidade provenientes dos materiais."






segunda-feira, março 15, 2010

contemplating the void

Foi pedido a 200 arquitectos de todo mundo uma intervenção original na emblemática espiral interior do edifício projectado por Frank Loyd Wright. Dois arquitectos portugueses participam nesta exposição, Paulo David, e o inevitável Siza. A exposição pode ser vista em www.guggenheim.org
Por serem 200 propostas quero apenas destacar aqui duas ou três das que mais gostei: a de Doris Salcedo, a dos MAD Architects, e também a do Siza, pela sua simplicidade, mais uma vez a mostrar a qualidade do seu génio.
Destaco também que não é fácil ver a exposição on-line, pois os artistas não são facilmente identificados e cada vez que acedemos à página das propostas estas mudam de posição, o que apenas dificulta a visita, (ainda não vi a exposição toda devido a este pormenor), mas a exposição tem na minha opinião intervenções boas, muito boas e (muito) más, não deixando de ser interessante o conceito do desafio.
Percam um bocadinho de tempo a ver algumas propostas. 

domingo, março 14, 2010

Termas de Vals

As termas de Vals na Suiça, da autoria do arquitecto Peter Zumthor (vencedor do prémio Pritzker 2009), é provavelmente a obra que mais me fascina, e maior curiosidade me desperta.
Anseio o dia em que as visitarei.

“Trabalho um pouco como o escultor. Quando começo, a minha primeira ideia para um edifício é o material. Acredito que a arquitectura é sobre isto. Não é sobre o papel, não é sobre as formas. É sobre o espaço e o material.”  

Peter Zumthor






















Deixo aqui dois filmes, o primeiro parece-me que tenta captar a harmonia do espaço, é um filme mais sensorial se assim podemos dizer. O segundo filme deixo-o aqui pois trata-se de um modelo 3d do edifício, e conseguimos perceber o espaço melhor. 

Assim que puder vou para Vals! 

sábado, março 13, 2010

speatchless

"spider" - spider é uma curta excelente e surpreendente de pouco mais de 9 min.
muito bom!

Cadeira e banco da marca Atlantico "Chaise & Tabouret" design de Marina Bautier

"yo lo digo mies van der rohe"

Quando entrei no curso de arquitectura, posso afirmar que era daqueles que não fazia a mínima ideia do que é arquitectura, e do que é a profissão de arquitecto. Mais do que isso, não tinha qualquer referência ou ídolo, não por ser exigente, mas por não "conhecer" nenhum arquitecto. Era de facto uma tela em branco. Só mais tarde viria a devorar revistas e livros de arquitectura na tentativa de absorver tudo aquilo que tinha perdido em anos cuja falta de cultura arquitectónica era a regra.
Esta tendência não foi automaticamente quebrada com a entrada na faculdade, foram vários os episódios que me levaram a corrigir essa lacuna, não só pela curiosidade motivada pelo interesse na arquitectura, mas também pela vergonha que sentia por não ter referências.


Quando já andava no segundo ano, houve claramente uma frase que me marcou, algo que me deu a conhecer uma das minhas maiores referências.


"yo lo digo mies van der rohe"


Esta frase intrigou-me desde o momento em que a vi. Um pedaço de papel cortado de alguma publicidade colado numa parede que não fazia (na altura) sentido nenhum deixou-me curioso, e despertou o meu interesse.Mais do que isso deu-me a conhecer um dos maiores génios da arquitectura de sempre!


Hoje, com o curso finalizado, não imagino a minha vida arquitectónica sem referências, sem um livro de arquitectura, sem o mies, o siza, o zumthor, o souto moura, aalto, mendes ribeiro, carrilho da graça, carvalho araújo, entre outros.

Oscar


(congresso nacional de Brasília)

"Não é o ângulo recto que me atrai, nem a linha recta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein."



Oscar Niemeyer

Arquitecto reconhecido em todo o mundo, Niemeyer tem uma visão própria da arquitectura, o seu estilo inconfundível é marcado pelas formas curvilíneas, e pela procura da beleza. Completamente contra a ideologia d"a forma segue a a função", transformou a beleza no aspecto fundamental da sua arquitectura.


Em 2007, Fabiano Maciel, realizou um documentário intitulado "A vida é um sopro", sobre a vida e a obra do arquitecto. Mais do que um documentário, o filme apresenta-se como uma história descontraída pautada, com conversas em ambiente informal com o Niemeyer. São 90 minutos muito bem empregues, que oferecem um contacto "real" com o pensamento do arquitecto, melhor que qualquer descrição jamais feita numa qualquer aula de teoria da arquitectura.
Mesmo que não se goste da sua arquitectura ostentativa, Niemeyer é e será sempre uma referência, quer pela sua arquitectura, quer pela sua maneira de ver o mundo.




quinta-feira, março 11, 2010

e assim passaram 3 anos...

Quer tenha sido por falta de tempo ou preguiça, na verdade é que passaram 3 anos desde a última vez que aqui escrevi algo. Em 3 anos tudo muda.. as vontades, a maneira de encarar e ver o mundo, principalmente relendo algumas das coisas que escrevi, que estavam pejadas de sentimentos de revolta para com o ensino da arquitectura, em especial na faculdade que frequentava, algumas criticas até um pouco irreflectidas, e talvez escritas no calor da emoção e revolta sentidas naqueles dias. Hoje as coisas são diferentes e penso que estão reunidas as condições para reescrever algo neste pequeno blog. Não que o sentimento de revolta tenha desaparecido, mas talvez redireccionado para outras preocupações mais "reais". Procuro com este novo post, e reabertura deste blog deixado ao abandono (negligentemente), vir a conferir-lhe um novo carácter perene, apagando os traços de efemeridade que assolaram este espaço desde o seu inicio.

O fio condutor da arquitectura que me rodeia continuará a ser o mote para as publicações futuras, procurando transmitir o ponto de vista e ideias deste agora (mais) humilde escritor, sem no entanto menosprezar todos os restantes aspectos que me marcam diáriamente.

Não irei cometer o pecado de prometer algo como posts diários, pois seria já de início faltar a verdade incitando da parte do leitor uma natural desconfiança, mas procurarei todas as semanas deixar algo que percorre os meus pensamentos e que seja digno de partilhar neste meu renovado espaço.